O continente que não nos sai da cabeça

É difícil de falar sobre temas com os quais estamos pouco familiarizados. Eu sou portuguesa e nunca tive a oportunidade de ir a África. A única ligação que tenho com o continente africano vem da minha família que viveu lá durante alguns anos. O meu avô era militar e decidiu ir para a guerra colonial com a minha avó e com a minha mãe. Viveram em Huambo, uma cidade angolana que na altura se chamava Nova Lisboa, e ficaram lá até 1976. Desde que me lembro, África e Angola é muitas vezes tema de conversa quando estamos todos juntos.
Não conheço bem a cultura africana mas o pouco que conheço deixa-me completamente fascinada. Para mim, o mais cativante de África é a forma como se “prende” às pessoas que por lá passam ou que simplesmente entram em contacto com a cultura, seja em lojas africanas ou com a própria comida.
Quando a minha mãe lá viveu, era muito nova e as recordações que tem são pouco vívidas. No entanto, os lugares por onde passa e as coisas que vai encontrando no seu dia-a-dia relembram-lhe o tempo que lá passou e certas sensações. O vento, o calor, o vento quente e o calor dos abraços das pessoas. Sente isto como se África estivesse “presa” dentro dela e fizesse parte de quem ela é. No fundo, faz parte da sua identidade. Alguns anos mais tarde, foi a Cabo Verde e sentiu que já lá tinha estado. Esta viagem foi uma viagem de trabalho em que teve de estar em contacto com crianças pobres que pouco ou quase nada têm. Mesmo não tendo estado com ela, eu consigo imaginar o impactante que é e terá sido.
Recentemente, fui a alguns lugares africanos em Lisboa. Provei novos sabores, bebidas e frutas do tamanho de pequenas pedras. Aquilo que eu suspeitava tornou-se claro na minha cabeça. A cultura africana prende-se a nós e é inesquecível.