Histórias Sara Shrestha

Atualmente, é cada vez mais comum cruzarmos-nos com pessoas de culturas diferentes, é a chamada globalização. Enquanto país pluricultural, Portugal regista a presença várias as etnias da qual se pode destacar a africana.
Lembro-me, que quando era mais nova, eu tinha bastantes amizades com pessoas africanas, haviam várias na minha escola. Ao contrário de todos os comentários maldosos que ia ouvindo na rua, sempre achei esses colegas pessoas de bom coração, prontas a ajudar e com um ótimo sentido de humor. Foi com eles que aprendi muito sobre os costumes e algumas tradições dos seus países de origem. Desde pequena percebi que havia neles uma garra invulgar, uma personalidade forte e marcada, diferente daquela que me tinha sido incutida.
Já mais recentemente, há apenas alguns dias atrás, tive o privilégio de ouvir algumas histórias sobre a raça negra. Histórias emocionantes, tristes, que nos deixam pensativas e, o mais importante, verídicas.
Um dos testemunhos que mais me marcou foi do Pai Paulinho, um africano que morreu no séc. XIX, mais precisamente no ano de 1869. Este era escravo no Brasil quando viajou para Lisboa em 1832, juntando-se à Irmandade ( onde naquela altura eram cedidos privilégios na ordem da libertação de escravos e na compra e venda de alfúrias - cartas). Depois de uma vida sofrida, foi o último juiz africano em Portugal. Como homenagem a este grande homem e exemplo de resiliência, existe uma estátua no nosso país feita pelo artista Rafael Bordalo Pinheiro.
A segunda história mais marcante era relativa aos judeus que vinham para Portugal. Devido à imposição da Inquisição, estes eram obrigados a mudar de religião para cristãos, sendo assim, chamados de novos cristãos. Infelizmente,em 1506, dentro da Igreja de São Domingues, houve uma grande matança onde morreram entre 2000 a 4000 judeus, ato de violência que marcou para sempre a história de Portugal.

Para além de histórias houve muitas curiosidades que nos foram ditas. Por exemplo, a Praça do Martim Moniz onde se localiza a igreja protagonista deste regicídio tem outro nome, menos conhecido: Embaixada da Guiné. Este local ficou também conhecido desta forma, uma vez que nas décadas de 60/70 o povo africano via aqui um pouco de encontro na altura da colonização. Ademais, encontravam aqui comida, auxilio, conforto, entre outros.
Por outro lado, já na Inglaterra,quando aconteciam tragédias, o povo vinha para a embaixada da Guiné por ser visto como um local seguro e com um grande espírito de solidariedade e sentido de interajuda, relevando o incrível caráter destes cidadãos.
No continente africano, existem três países cujo nome começa por Guiné: Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Guiné Conakry. O nosso país tem uma profunda relação com a Guiné-Bissau já que é uma ex colónia, a segunda enunciada pertence a Espanha e a última é uma colónia francesa.
Relativamente à religião, os africanos quando frequentavam a igreja e participavam nas procissões eram muito bem falados pelo povo português, pois passavam-nos a considerar boas pessoas e assim, aos poucos, a mudança de mentalidades e a diminuição do preconceito permitiu que os costumes de outrem fosse entrando nas nossas vidas, como a dança e a comida.
Assim, ao ouvir todas estas histórias sobre esta população de tamanho carácter e determinação sinto ainda mais respeito e orgulho pelo que conseguiram conquistar. Mesmo com um passado muito triste, todas estes relatos dramáticos, fizeram-me perceber que está nas nossas mãos proporcionar um clima igualitário a todos os cidadãos, fechando os olhos a diferenças físicas, formas de pensar e costumes e aceitando o desafio de aprendizagem para que o nosso presente não se venha a tornar no futuro mais um destes dramas e situações de discriminação.