Das Colónias à Metrópole Amorim

Angola, 1975. Pós Guerra Colonial. Corria o ano de 1975. Angola era agora uma Angola independente. Independente da sua Metrópole, Portugal. Mas não era uma Angola independente de si. Os partidos políticos Angolanos lutavam pela possibilidade de governarem o seu país, agora livre. Os partidos dividiam-se, como sempre, e o seu país continuava a cair na desgraça com a guerra civil que se instaurou. Os poucos portugueses que se mantinham na capital começaram a ser perseguidos e expulsos do país pelos militantes dos partidos que queriam a libertação total de Angola e dos seus cidadãos. O meu pai, na altura com 6 anos, o meu tio com 5 e a minha tia com 3, acompanhavam os pais na árdua tarefa de colocarem os colchões nas janelas, para se protegerem das balas. A dificuldade de dormir no chão ou em estrados era suplantada pela ideia de algo de mal acontecer se uma daquelas balas entrasse em casa. A comida era pouca, muitas vezes só chegava lá casa graças a almas caridosas que faziam jus à palavra de Deus, ou seja, padres que a minha família conhecia que lhes levavam o pouco que havia nas prateleiras para se poderem alimentar enquanto não saíam de casa. O meu tio, fortemente ligado a um partido cristão que se opunha aos partidos nacionais, foi fortemente perseguido por oficiais e teve que deixar a família e exilar-se no Brasil. Mesmo aqui não estava a salvo. Sendo um homem muito ligado à igreja, o meu tio foi ajudado por um padre numa igreja, pois até neste país haviam espiões que sabiam que muitos dos perseguidos políticos se exilavam no Brasil. No dia em que os oficiais chegaram a nossa casa tivemos que largar tudo, deixar tudo para trás, muitas memórias de gerações e terrenos guardados durante anos. O Brasil e a igreja foram o refúgio de muitos, e desses muitos provenientes das antigas colónias portuguesas Angola e Moçambique, a minha família foi uma delas. Durante alguns meses viveram sem nada, em casas com poucos quartos para famílias inteiras, com dinheiro suficiente para se alimentarem de arroz e feijão. Todos estes portugueses vão continuar ligados a estes países, uns mais, outros menos, quer seja das memórias incríveis, quer seja da infelicidade de terem de sair do seu país de origem.